Tóquio, madrugada do dia 16 pro dia 17 de outubro de 2024
Quando eu era criança e assistia séries e desenhos japoneses na TV Manchete, o Japão parecia um país distante e inalcançável. Nunca imaginei que algum dia estaria aqui.
Acordo de madrugada por conta do jet lag e é reconfortante pensar que estou num lugar onde a cada esquina existem lojas de conveniência abertas 24 horas.
À noite Tóquio se torna ainda mais atordoante. Há luzes, sons e pessoas por todos os lados. Os jingles das lojas ressoam na nossa cabeça até na hora de deitar. Me pergunto se as pessoas que trabalham nesses estabelecimentos ainda os ouvem ou se os assimilaram como os sons de relógios e outros ruídos das nossas casas.
Em compensação, o silêncio faz parte da norma dos transportes públicos. Vai ver é uma forma de se desligar do mundo na superfície.
Osaka, 21 de outubro de 2024
Em Osaka encontro os primeiros sinais do outono, que por aqui tem chegado mais tarde em consequência das mudanças climáticas. O dia está extremamente quente debaixo do sol.
Entendo por que há tantos shoppings e tenho vontade de me refrescar em algum deles.
Andei tanto nos últimos dias que estou com bolhas nos pés. Sigo andando, afinal estou no Japão, caramba, e tem tanta coisa pra ver aqui. E comer. Dizem que Osaka é a capital japonesa da gastronomia. Fica difícil escolher.
Quioto, 24 de outubro de 2024
Estamos hospedados numa machiya, uma casa tradicional japonesa com futons e mesinhas baixas. Tenho vivido meus dias perfeitos, mas me sinto cansada e tenho saudade da minha casa. Estou lendo O turista aprendiz de Mário de Andrade, livro que reúne as anotações do modernista sobre sua viagem à Amazônia. Em meio aos seus relatos, Mário diz não ter sido feito pra viajar, “meu destino é viver em casa, entre meus livros”. Por mais que os nossos itinerários sejam em cantos opostos do mundo, me identifico com ele, mas acrescentaria “meus gatos” junto com os livros.
Saio pra caminhar sozinha. O ritmo em Quioto é mais tranquilo do que em Tóquio e Osaka. Atribuo a característica ao Kamo-gawa, o famoso rio que corta a cidade de norte a sul. Estar perto d’água proporciona momentos de respiro.
Naoshima, 26 de outubro de 2024
Agora posso dizer que atravessei metade do Japão. Vim visitar Naoshima, uma das ilhas de arte do país. Vejo a grande abóbora amarela de Yayoi Kusama à beira do mar, até alguns segundos antes apenas uma imagem na minha cabeça e agora algo concreto em que posso tocar. Viajar é justamente isso, materializar coisas que antes viviam apenas no nosso imaginário.
No museu Chichu, a pedido dos funcionários, tiro os sapatos pra entrar numa sala toda branca onde estão os Nenúfares de Monet. Até o chão da sala, feito de mosaicos de mármore, é arte pura. Não posso tirar fotos aqui dentro, mas na saída compro um postal com uma imagem desse mesmo chão.
Tóquio de novo, 28 de outubro de 2024
Meus dias no Japão estão chegando ao fim. Em busca de passeios mais calmos, fui visitar o templo budista de Gōtokuji, o templo dos gatos nos subúrbios de Tóquio.
A primeira vez que vi esse templo foi no filme Sans solei, realizado pelo diretor francês Chris Marker, que é parte documentário, parte ficção, e é sobre memória. A narradora lê uma carta que recebe de um conhecido que visitou Tóquio e escreveu: “Eu me pergunto como as pessoas lembram das coisas que não filmam, não fotografam e não gravam.”
É um dia nublado, mas agradável. Me sinto em paz e talvez seja porque estou dentro de um templo. Penso se vou lembrar desse sentimento daqui a alguns anos, por isso escrevo no meu caderno de bolso com capa de couro que agora carrego na minha bolsa.
As fotos que acompanham esse texto foram todas tiradas por mim com uma Olympus PEN E-P7.
Um abraço e até a próxima,
Maíra
Que delícia! Japão é demais, né? Para mim, faltou visitar Osaka. Adorei o relato. Bjs
Encantada demais com os relatos e tuas fotos do Japão. Me senti um pouco passeando por lá enquanto lia <3